Equipe OAbrealas
Renúncia de presidente, rebaixamento de escola e crises internas têm sido assuntos bastante discutidos nesse período pós-Carnaval. Duas escolas da Zona Norte são as protagonistas desta história: Portela e Caprichosos de Pilares, que já tiveram prestígio no passado e hoje se vêem envolvidas em questões políticas.
Com 21 títulos, a escola de Osvaldo Cruz e Madureira orgulha-se em ser a maior detentora de campeonatos. Mas esta estrela parou de brilhar há 27 anos: a última vez que a Portela levantou a taça foi em 1984, com o consagrado enredo "Contos de areia". Desde então, a Majestade do Samba vem obtendo posições intermediárias, apenas chegando ao desfile das campeãs em 2008 e 2009 (4º e 3º lugar, respectivamente). No ano passado, amargou a 9º colocação, tendo seu desfile muito criticado pelo público e pela mídia.
Em 2011, a Águia se viu envolvida em uma situação adversa. No dia 7 de fevereiro, os barracões da Portela, Grande Rio e União da Ilha foram atingidos por um incêndio que destruiu suas fantasias e alegorias. Apouco menos de um mês para o desfile, como nenhuma das agremiações teriam tempo hábil para se reconstruir, a Liesa optou pelo não-rebaixamento na disputa deste ano, além de que essas três escolas não serem pontuadas. A Prefeitura do Rio, em parceria com a iniciativa privada, repassou subvenção para possibilitá-las de entrar na avenida. Embora todas elas tenham mostrado garra e seguido o seu desfile, a Portela foi a única que passou com carros inacabados, ostentando ferros.
Após o desfile, alguns integrantes da diretoria da escola manifestaram sua insatisfação com o carnaval apresentado pela Portela. Até o momento, os diretores de harmonia e carnaval Alex Fab, Junior Escafura e Marcelo Jacob deixaram seus cargos à disposição até que providências sejam tomadas para que a Águia volte a figurar entre os grandes nomes do Carnaval Carioca.
Um dia após anunciar sua saída, Junior Escafura esteve na avenida e mostrou-se preocupado com o destino da escola.
- A Portela tem que passar por mudanças, vamos ver o que o presidente vai decidir. Nós colocamos o cargo à disposição para que seja feito o melhor pela escola. O presidente precisa repensar suas atitudes nos últimos anos. Não queremos promover nenhuma dissidência política, só achamos que a Portela tem que entrar na avenida para disputar título, tem que pensar grande e mudar a forma de administrar. Se isso acontecer, pode até ser que eu volte atrás da minha decisão. - afirmou Escafura, no desfile de segunda-feira.
Ainda segundo o portelense e diretor de harmonia, a insatisfação com o desfile apresentado pela Portela foi um dos motivos para a decisão dos três.
- Apesar da escola ter sido atingida pelo incêndio., isso não é desculpa para algumas coisas que aconteceram internamente e algumas coisas que vocês viram no desfile de ontem. - encerrou.
Desde então, outros portelenses têm protestado por mudanças na escola. Na última sexta-feira, dia 11, cerca de cinquenta torcedores da Águia foram à Liesa pedir para que a Liga intercedesse sobre a tradicional agremiação. Para embasar os reais motivos contra a administração, eles levaram um documento que atestava os principais problemas da escola intitulado "As sete pragas de Nilo". Embora os manifestantes tenham sido atendidos pela presidência, nada pôde ser feito, uma vez que a Liesa não tem poder de interferência nas questões políticas das agremiações.
Por outro lado, o presidente da Portela, Nilo Figueiredo, garante a sua permanência na escola até o final do mandato, em 2013. Através de uma nota oficial, informou ainda que os manifestantes não o procuraram para expor suas ideias e que está de portas abertas para recebê-los e tratar da preparação do carnaval 2012.
Ainda segundo a nota, após o sábado das campeãs será agendada uma reunião apra resolver as demais questões internas da escola.
Presidente da Caprichosos deixa cargo e escola é rebaixada
Pilares está desolada. Após o desfile de sábado, no Grupo de Acesso A, só restava uma certeza: o presidente Paulo de Almeida não tentaria a reeleição. Foi com um discurso de que iria se dedicar à família e aos filhos que ele de despediu da escola, minutos antes do desfile na Sapucaí.
O Carnaval levado para a avenida foi digno de pena, com alegorias mal acabadas e descontextualizadas. Nem mesmo o enredo que era a cara da escola, a bateria impecável e o belo samba foram suficientes para manter a escola no Grupo A.
A azul e branco de Pilares já começou a apuração penalizada por levar um tripé na comissão de frente (o regulamento do Grupo de Acesso proibe o uso de elementos cenográficos que não sejam os carros alegóricos tradicionais). No decorrer da abertura dos envelopes, mais surpresas. Uma nota 8 para o quesito enredo já demonstrava o drama em que a escola estava inserida.
Para os integrantes, o clima era de revolta. Mas a crise já se instalava em Pilares um mês antes do desfile. O diretor de Carnaval Paulinho do Ouro, insatisfeito com os rumos da escola, deixou a Caprichosos no dia 14 de fevereiro. Após o resultado da apuração, Paulinho fez o seu desabafo:
- Saí por discordar da maneira como o presidente administrava a escola e por ele ter cortado coisas do projeto original. A escola está bem melhor no Grupo B sem ele do que no Especial com ele. - contou o ex-diretor de carnaval.
Durante esta semana, a escola irá se reunir para a eleição do novo presidente da escola, torcendo para respirar novos ares de esperança e conquistar o prestígio e a auto-estima perdidos desde a sua queda para o Grupo A.